Citologia Uterina em Éguas – Importância na Endometrite

A citologia uterina é considerada um método eficiente e prático para o diagnóstico de afecções uterinas nas éguas, contribuindo para a conduta terapêutica e, posteriormente, para o prognóstico quanto à fertilidade das fêmeas.

Por isso, é considerada como o procedimento mais utilizado a campo para a descoberta da endometrite. Essa condição uterina é definida como uma inflamação do endométrio, podendo ser aguda ou crônica, infecciosa ou não infecciosa. 

Citologia uterina anatomia
Esquema representativo de uma secção do corno uterino da égua.
McKINNON et al. (2011).
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Etiologia da Endometrite

A maior causa de endometrite se dá pela limpeza deficiente do útero em remover bactérias, espermatozoides e exsudato inflamatório (Galhós, 2018).

Ocorre em éguas susceptíveis ou em éguas com idade avançada, nas quais muitas vezes está correlacionado com a posição do útero e retardo na eliminação de fluidos uterinos após a cobertura, causando a infertilidade dessas éguas.

Essa doença pode ser de caráter subclínico, ocorrendo no pós-parto, serativa, ou ainda específica, classificada como: infecciosa crônica, fúngica, persistente pós-cobertura, crônica degenerativa ou causada por bactérias sexualmente transmissíveis.

Égua citologia uterina
Égua apresentando leve secreção vaginal com aspecto purulento (A)
ultrassonografia do utero
Imagem ultrassonográfica (B) do líquido intra-uterino (líquido anecóico com alguns pontos hiperecóicos).

Essa afecção é de grande importância econômica dentro da medicina veterinária, podendo resultar em morte embrionária, aborto e até mesmo, tornar a égua infértil, sendo uma das afecções que mais comprometem a sanidade uterina, colocando em risco índices de prenhez obtidos pós-cobertura, pós-inseminação, e pós-inovulação de embriões.

Diagnóstico da Endometrite

Para realizar o diagnóstico da endometrite se faz necessário realizar algumas perguntas sobre a égua avaliada e analisar, como por exemplo:

  • Idade;

  • Dados sobre infertilidade;

  • Número de crias;

  • Inspecionar a conformação perineal;

  • Avaliar se há presença de secreções;

  • Realizar a vaginoscopia para examinar hipermia da mucosa e observar se há ou não presença de exsudato;

  • Palpação transretal avaliando tônus uterino e atividade ovariana.
Palpação Transretal
Exame de palpação transretal
Fonte: Arquitetura Equestre

Posteriormente, devem ser pedidos exames complementares como a citologia uterina.

Como é realizado a citologia uterina?

A obtenção de amostras uterinas de éguas, seja por citologia, ou através de biópsia endometrial, é realizada de forma rotineira para o diagnóstico de afecções uterinas.

Esse procedimento é uma ferramenta muito utilizada para avaliar a inflamação uterina por meio da detecção de polimorfonucleares neutrófilos (Card, 2005), representando um método prático quanto à sua execução e rápido para obtenção de resultados.

Isso facilita a conduta terapêutica em éguas destinadas à reprodução ou o descarte de éguas receptoras em programas de transferência de embriões.

Miura et al.,2010

Passo-a-Passo da Citologia Uterina em Éguas

A coleta de material uterino para o exame citológico é comumente realizada por meio de escova ginecológica, “swab” uterino guiado por mandril metálico, plástico descartável ou lavado uterino de baixo volume (Bohn et al., 2014), seguido de sedimentação ou centrifugação, podendo ser completada por citocentrifugação.

A técnica de citologia uterina por meio de escova ginecológica, assim como swab, é realizada após acoplar os mesmos a uma pinça de citologia. O equipamento é constituído também por um mandril, o qual facilita a protrusão da escova.

Escova citologia

1 – A execução de todas as técnicas se inicia com a preparação e higienização da região perineal, a qual envolve a palpação transretal para remoção das fezes e limpeza do reto, proporcionando ainda a avaliação da condição uterina.

2 – Após este procedimento, a cauda deve ser isolada lateralmente por meio de ataduras e em seguida, realizar assepsia da região perineal com água e detergente neutro seguida por clorexidine 2% e secagem.

3 – Para execução da técnica a ponta da haste é coberta pelo dedo polegar. O equipamento é introduzido na vagina até a verificação do óstio externo da cérvix, dentro do qual o instrumento é direcionado até atingir a superfície do lúmen uterino.

4 – Após a introdução, a haste de metal deve ser posicionada no corpo do útero e a escova deverá ser exposta e rotacionada consecutivamente por três vezes para obtenção do material.

A escova deve ser retraída para dentro da haste de metal com auxílio do mandril acoplado à escova, sendo então removido do trato genital da égua.

5 – Para a confecção das lâminas é necessário transferir o material coletado para uma lâmina, pressionando e girando sobre a superfície da mesma.
No laboratório, a lâmina deve ser secada e submetida à coloração rápida com etapas de fixação e coloração.
Após este processo as lâminas são examinadas no microscópio.

6 – A avaliação microscópica das lâminas pode ser baseada na proporção encontrada entre células endometriais e neutrófilos (nas quais migram para o lúmen uterino em resposta à inflamação), ou na quantidade de neutrófilos por campo, ou ainda na quantidade total de neutrófilos de uma amostra (lâmina total).

citologia em éguas
Escova ginecológica utilizada na citologia uterina equina (A). Citologia uterina evidenciando a presença de um polimorfonucleado pela seta (B)
Relação entre o número de neutrófilos encontrados após a avaliação microscópica e o grau de endometrite.
Fonte: Endometrite em Éguas Diagnóstico e Tratamento

Todo o procedimento exige competência profissional do médico veterinário desde a realização da coleta de material até a interpretação dos resultados para a conduta clínica adequada, podendo o diagnóstico ser realizado em diferentes fases do ciclo estral da égua, de acordo com a necessidade do veterinário e/ou proprietário. 

Caso você queira aprender ainda mais sobre a endometrite e a citologia uterina, confira essa palestra ministrada pelo Dr. Gabriel Monteiro

LEMBRE-SE

Este artigo tem apenas caráter informativo. SEMPRE procure por um profissional!

Aproveitando os estudos, confira o nosso artigo sobre Reprodução de Éguas – Anatomia e Fisiologia

Camila Pansanato

Graduanda em medicina veterinária, apaixonada por cavalos e por suas ações. Amante da reprodução e neonatologia equina. Instagram: @cpreproducao

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