Síndrome do Navicular – Sinais Clínicos e Tratamento

A doença do osso navicular (síndrome do navicular) é uma moléstia degenerativa que envolve o osso sesamóide distal (navicular) dos equinos.

Esta síndrome é considerada uma das causas mais comuns de claudicação dos membros anteriores em equinos. Pode ser limitada a um membro; entretanto, afeta mais comumente ambos os cascos dianteiros, causando claudicação bilateral.

Ela é espécie-específica, atingindo todas as raças e tipos de equinos de serviço (mais frequente em equinos entre 7 e 14 anos); mas raramente observada em pôneis, equinos da raça árabe e de raças pesadas. Não se manifesta em asininos e muares.

sindrome do navicular em equinos
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Anatomia

O Osso Sesamóide Distal (OSD) (figura 1A e 1B abaixo) está localizado no aspecto palmar/plantar do dígito equino entre a porção distal do Tendão Flexor Digital Profundo (TFDP) e a Articulação Interfalangeana Distal (AID). 

Osso síndrome do navicular
Figura 1 (A e B): Localização do osso navicular e tendão flexor digital profundo.

A função primária do osso navicular é promover ângulo constante para a inserção do TFDP (ROONEY, 1980).

O osso navicular tem duas superfícies (flexora e articular), duas bordas (proximal e distal) e duas extremidades (medial e lateral).

Introdução à Síndrome do Navicular

Como a tendência da síndrome é bilateral, o correto é examinar minuciosamente ambos os membros, pois isso pode auxiliar na observação das modificações estruturais iniciais antes que se iniciem os sinais clínicos.

A doença do navicular é usada para indicar uma síndrome progressiva crônica que acomete:

  • Osso navicular;

  • Sua superfície flexora fibrocartilaginosa;

  • Seus ligamentos e inserções capsulares;

  • Tendão flexor digital profundo;

  • Bursa do navicular. 
Osso e bursa do navicular
Osso e bursa do navicular (em amarelo)

Estima-se que a síndrome seja responsável por um terço de todas as claudicações crônicas de membros anteriores em equinos (STASHAK, 2006).

Histórico e Sinais Clínicos

Geralmente apresentam histórico de claudicação de membros anteriores progressiva, crônica, unilateral ou bilateral, e essa pode ser repentina (mais comum) ou de início agudo. (STASHAK, 2006).

A maioria das teorias pode ser classificadas como de natureza vascular ou biomecânica (SMITH, 2006).

O caráter hereditário da patologia está particularmente ligado a etiologia da doença sendo uma conformação muito vertical.

Um osso navicular pouco resistente e pequeno tamanho dos cascos em relação ao peso do animal, são alguns dos principais responsáveis pelo aparecimento do quadro.

Claudicação

De modo geral, qualquer fator que aumente a concussão do osso sesamóide distal sobre o solo pode dar origem a patologia (FARIA, 2011).

O sintoma mais comum é a claudicação crônica e progressiva dos membros anteriores de início insidioso, a qual nos estágios iniciais melhora com a prática de exercícios.

osso sindrome do navicular
Projeção oblíqua dorsoproximal-palmarodistal do pé dianteiro esquerdo de um castrado belga de sangue quente de 18 anos com história de claudicação crônica bilateral. Existe uma lesão óssea do tipo cisto presente no osso navicular (seta branca), várias invaginações sinoviais da borda distal em forma de pirulito (ponta de flecha) anormais e um entusiasta na margem lateral da borda flexora proximal do osso navicular (preto) seta) Sela Belga

Em geral, no início a claudicação é discreta a moderada, frequentemente piorando com o tempo. Apesar da cronicidade, a claudicação pode se estabilizar de modo que permita pastejo confortável e raramente se justifica sacrifício do animal (SMITH, 2006).

Claudicação sindrome do navicular
Um sinal de claudicação é um movimento rítmico da cabeça quando um cavalo anda ou trota.

Na figura acima – O movimento oscilante é produzido quando um cavalo usa a massa da cabeça e do pescoço para afastar o peso da perna dolorida a cada passo.

Na figura abaixo – Movimentação normal.

Fonte: Hoofbeats Magazine
Você pode conferir melhor esse sinal de claudicação neste vídeo.

Os animais podem demonstrar estes sinais através do trote, onde eles vão encurtar a fase final da passada, relutância nas atividades de salto e através de tropeços contínuos (MIRA, 2011).

Diagnóstico da Síndrome do Navicular

O diagnóstico da síndrome navicular baseia-se em: 

  • Anamnese;
  • Achados do exame físico;
  • Bloqueio do nervo digital palmar;
  • Diagnóstico radiográfico (SMITH, 2006).

Não existe um exame clínico patognomônico para a detecção da doença do navicular. Em casos de suspeita de claudicação navicular, os dois membros devem ser radiografados, já que as alterações radiográficas geralmente são bilaterais mesmo quando os sinais clínicos não o são (TRHALL, 2010).

O bloqueio do nervo digital palmar serve como um exame complementar na síndrome navicular. Por causa desse bloqueio e seu consequente alívio na dor, o cavalo vai andar um pouco melhor, mas a pata ainda vai pisar primeiro com a pinça.
Esta é uma interferência mecânica que não pode ser modificada por um bloqueio nervoso (FLORINDO, 2010).

bloqueio do nervo digital palmar
Nervo digital palmar (em amarelo).
Fonte: GEMEQ

Na avaliação radiográfica, a localização do osso navicular e seu formato complexo exigem a realização de, pelo menos, três diferentes projeções para que a avaliação radiográfica seja completa.


São elas:

  • Projeções dorsoproximais-palmarodistais anguladas;
  • Projeção lateralmedial;
  • Projeção palmaroproximal-palmarodistal oblíqua (TRHALL, 2010).
Projeções síndrome do navicular
Alterações radiográficas observadas na degeneração navicular.

Projeção dorsoproximal palmarodistal em 65 graus:
A – Normal;
B – Entesófito de remodelamento na extremidade e borda proximal irregular;
C – Invaginações em forma de pirulito na borda distal;
D – Formação de lesão cística.

Projeção lateromedial:
A – normal;
B – Perfil navicular alongado causado pelo remodelamento (formação entesofítica);
C – Erosão do córtex flexor;
D – Formação da lesão cística.

Projeção palmaroproximal palmarodistal:
A – Normal;
B – Erosão do córtex flexor;
C – Fossa alargada e erosão em córtex flexor;
D – Formação da lesão cística. (Modificado com permissão de Richard Park, Fort Collins, Colo.)

Lembrando sempre que antes do membro ser radiografado, ele precisa ser limpo e estar sem as ferraduras.

Principais sinais radiográficos da degeneração do navicular:

Borda proximal e distal:

Entesófito (esporão) nas extremidades;

Remodelamento.

Projeções-laterais do osso navicular
Projeções laterais do osso navicular:

A – Osso navicular normal.

B – Alongamento proximal causado por remodelamento.

C – Entesófito (esporão) na borda proximal (seta preta) e lise do córtex flexor (seta branca).

Alterações na borda distal:

Invaginações sinoviais;

Pequenos fragmentos ósseos.

Projeções-dorsoproximal-palmarodistal do osso navicular
Projeções dorsoproximal-palmarodistal do osso navicular

A – Osso navicular normal.

B – Alargamento da invaginações sinoviais da borda navicular distal.

C – Invaginações sinoviais em forma de pirulito da borda navicular distal.

D – Cavitação cística sobre o plano da cavidade medular do navicular.
Lembre-se de que, em projeções dorsoproximais-palmarodistais anguladas, as erosões no córtex flexor muitas vezes mimetizam cistos na cavidade medular. Desta forma, nestas situações, a obtenção de radiografias palmaroproximal-palmarodistal e/ou lateral será necessária para determinar a localização exata da lesão.

E – Grande entesófito (seta branca) na margem lateral do osso navicular.

Alterações do córtex flexor:

Erosões corticais;

Mineralização do tendão flexor digital profundo

Projeções palmaroproximais palmarodistais
Projeções palmaroproximais-palmarodistais do córtex flexor e da medula do navicular, mostrando várias anormalidades.

A – Visualização do aumento das invaginações sinoviais em borda distal.

B – Erosões do córtex flexor (setas) resultam na perda do contorno flexor regular normal.

C – Grande lise cortical focal causando descontinuidade do córtex flexor na eminência central.

D – Esclerose óssea subcondral na porção central da cavidade medular.

Alterações da cavidade medular:

Cistos radiotransparentes:

Esclerose.

Outros exames

Além de exames radiográficos, existem outros exames para auxiliar no diagnóstico da síndrome navicular, como:

  • A ultrassonografia;

  • Cintilografia;

  • Tomografia computadorizada;

  • Ressonância magnética (FLORINDO, 2010). 

O diagnóstico diferencial deve incluir talões cisalhados, fratura da parede do casco, fissuras na parede do casco posterior, fraturas do osso navicular ou falange distal, osteíte podal, alterações de sola e artrose articular do casco (SMITH, 2006).

Tratamento da Síndrome do Navicular

Como muitos equinos com síndrome do navicular são submetidos a vários tratamentos, é difícil uma avaliação definitiva da eficácia de um tratamento especifico na recuperação (STASHAK, 2006).

Vários tratamentos são destinados a reduzir ou interromper a degeneração progressiva do osso navicular ou fornecer alívio paliativo da dor (SMITH, 2006).

O êxito de um tratamento depende de vários fatores, incluindo quando o tratamento foi iniciado e o uso e a conformação do equino.
O tratamento de casos precoces de síndrome do navicular com mínimas alterações radiográficas pode ser satisfatório. 

Com casos crônicos que apresentam alterações radiográficas, o melhor a ser esperado é a prevenção da progressão da síndrome e o manejo do equino, de forma que esse possa continuar seu desempenho.

O tratamento geralmente envolve:

  • Períodos variáveis de repouso;

  • Cuidado com os cascos e colocação e ferradura corretivos;

  • Drogas para melhorar o fluxo sanguíneo;

  • Agentes anti-inflamatórios e, recentemente, drogas específicas para o tratamento da artrite (STASHAK, 2006).

    O tratamento medicamentoso pode ser realizado com aplicações de antiinflamatórios não esteróides por via sistêmica e corticosteróide intra-bursal.

    Com base na etiopatogenia trombótica do processo, pode-se lançar mão de drogas anticoagulantes por via sistêmica, porém sempre, com cautela e acompanhamento laboratorial dos fatores de coagulação sanguínea.

    Substâncias beta-bloqueadoras como isoxsuprina são indicadas para a melhora do fluxo circulatório local.
tratamento sindrome do navicular
Diferenças entre vasos sanguíneos após o uso de beta-bloqueadores
Fonte: 121doc

Opções Cirúrgicas

O tratamento pode ser feito também com opções cirúrgicas, que incluem:

  • Desmotomia para suspensão do osso navicular, onde o osso é suspenso no sentido palmar da articulação interfalangica distal por três ligamentos;

  • Neurectomia digital palmar, cuja sua função será aliviar a dor eliminando a sensibilidade da região palmar do pé (SMITH, 2006). Este procedimento não é benigno mas também não é uma panaceia. Entretanto nas mãos de um bom cirurgião, a neurectomia é uma forma de alívio por um longo período (TURNER; McILWRAITH, 2002).
Neurectomia digital palmar
Neurectomia digital palmar
Fonte: Cornell University

Prognóstico e Prevenção

De um modo geral, o prognóstico deve ser reservado em todos os casos. Contudo, devido ao uso de novas terapias medicamentosas, um prognóstico melhor pode ser previsto para o futuro.

A neurectomia deve ser considerada o último recurso (FLORINDO, 2010).

Nem sempre é possível prevenir a síndrome do navicular. O cuidados principais a serem tomados são:

ferrador sindrome do navicular
A prevenção sempre será o melhor remédio
  • Cuidados regulares com um ferrador, mantendo assim o equilíbrio do casco;

  • Não permita que o cavalo fique com sobrepeso ou obeso. Um cavalo com excesso de peso experimenta mais estresse nos cascos e tendões. Carregar excesso de gordura corporal também pode contribuir para problemas nas articulações, disfunção metabólica e outros problemas de saúde.

  • Uma nutrição adequada desempenha um papel fundamental na saúde do casco. Alimentar o cavalo com uma dieta balanceada que forneça aminoácidos, vitaminas e minerais suficientes ajudará a manter a saúde do casco.

LEMBRE-SE

Este artigo tem apenas caráter informativo. SEMPRE procure por um profissional!

Aproveitando os estudos, confira o nosso artigo sobre Tétano em equinos

Helen Bezerra

Graduanda em Medicina Veterinária, apaixonada por cavalos desde criança. Nas horas vagas estudo sobre cavalos e pratico musculação. Instagram: @medvethelen

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