Se tratando da anatomia e fisiologia do coração, podemos definir o sistema cardiovascular em uma palavra: TRANSPORTE
Mas afinal…
- Como o coração realiza esse transporte?
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ - Quais são as substâncias transportadas pelo coração?
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ - Como o coração consegue receber e bombar sangue para o resto do corpo?
Confira a resposta dessas e muitas outras perguntas sobre anatomia e fisiologia do coração no artigo a seguir.
- Termos Importantes
- Curiosidades
- Introdução Anatomia e Fisiologia do Coração
- Anatomia Externa do Coração
- Anatomia Interna do Coração
- Camadas da Parede Cardíaca
- Fisiologia do Ciclo Cardíaco
- Circulação Sanguínea
- Bulhas Cardíacas
- Mecanismo Contrátil do Músculo Cardíaco
- Atividade Elétrica do Coração
- Eletrocardiograma
Termos Importantes
Antes de começarmos com o artigo em si, confira esse pequeno glossário com termos referentes a cardiologia.
Isquemia | Fluxo inadequado de sangue |
Infarto | Isquemia persistente levando a lesão tecidual |
Hipotensão | Pressão baixa |
Insuficiência cardíaca | Disfunção do coração que compromete sua capacidade de bombear o sangue necessário para o corpo |
Bradicardia | Frequência cardíaca abaixo do esperado |
Taquicardia | Batimentos cardíacos rápidos |
Miocardite | Inflamação do músculo cardíaco |
Arritmias | Perturbação do ritmo do coração. Podem ser lentas (bradiarritmias) ou rápidas (taquiarritmias) |
Aneurisma | Dilatação anormal de um vaso sanguíneo |
Estenose | Estreitamento encontrado nos vasos sanguíneos |
Hipóxia | Baixo teor de oxigênio no corpo |
Trombose | Coágulo de sangue dentro do coração ou vasos |
Fibrilação | Contrações rápidas e desordenadas de parte do coração |
Angiografia | Método diagnóstico que consiste em injetar contraste na corrente sanguínea para observar estruturas do coração ou vasos |
Choque hemorrágico | Insuficiência cardiovascular causada por intensa perda de sangue |
Choque cardiogênico | Colapso cardiovascular causado por insuficiência cardíaca |
Choque séptico | Causado por infecção bacteriana na corrente sanguínea (bacteremia) |
Choque endotóxico | Endotoxinas entram na corrente sanguínea |
Curiosidades
O tamanho do coração de um cavalo varia com o tamanho do cavalo, pesando entre 3 e 4,5kg e podendo chegar até 1% do peso corporal total do animal.
O coração de um cavalo bombeia por volta de 30l de sangue por minuto em repouso. Para equinos atletas durante o exercício, o débito cardíaco pode chegar a mais de 250 litros por minuto!
Introdução Anatomia e Fisiologia do Coração
A corrente sanguínea transporta várias substâncias essenciais para a saúde, incluindo oxigênio e nutrientes para cada célula e tecido do corpo.
O sangue também transporta dióxido de carbono e outros produtos excretados do metabolismo das células, encaminhados para a eliminação do corpo através dos pulmões, rins e fígado.
Quanto maior a taxa de metabolismo em um tecido, maior a necessidade de fluxo sanguíneo.
Substâncias Transportadas pelo Sangue
O sangue transporta substâncias metabólicas essenciais para cada célula do corpo e também realiza a remoção de substâncias excretadas pelas mesmas células para fora do corpo.
O sangue também transporta hormônios como:
- Insulina – responsável pela captação celular da glicose;
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ - Adrenalina – liberada na corrente sanguínea durante períodos de estresse;
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ - Epinefrina e Norepinefrina – efeitos de “fuga ou luta”, aumentando a frequência cardíaca, pressão arterial e dilatação dos vasos sanguíneos da musculatura esquelética.
Finalmente, o sangue transporta água e eletrólitos, incluindo Na+, Cl–, K+, Ca2+, H+ e HCO–3 e os rins são os responsáveis por alterar as concentrações de eletrólitos vindos do sangue.
O sistema cardiovascular também realiza funções importantes no organismo como a regulação e manutenção da pressão arterial, temperatura corporal e da homeostasia, ou seja, habilidade de manter o meio interno em um equilíbrio constante, independentemente das alterações que ocorram no ambiente externo.
Anatomia Externa do Coração
O coração é o órgão central que, por contrações rítmicas, bombeia continuamente o sangue através dos vasos sanguíneos.
A parte externa é dividida em ápice, base e mais três faces: esternocostal, diafragmática e pulmonar.
A base está constituída dos átrios direito e esquerdo e o ápice está localizado nos ventrículos direito e esquerdo. As veias cavas superior e inferior e as veias pulmonares penetram no coração pela base.
O órgão também pode ser dividido em quatro margens, sendo elas:
- Superior – localizada nos dois átrios;
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ - Inferior – nos dois ventrículos;
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ - Direita – no átrio direito;
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ - Esquerda – no ventrículo esquerdo e parcialmente no átrio esquerdo).
Faces do Coração
Face esternocostal (anterior) – A face esternocostal é formada pelo ventrículo direito.
Face pulmonar (esquerda e direita) – A face pulmonar esquerda é formada pelo ventrículo esquerdo, ela causa a impressão cardíaca do pulmão esquerdo. A face pulmonar direita é formada pelo átrio direito.
Face diafragmática (inferior) – É formada principalmente pelo ventrículo esquerdo e parcialmente pelo ventrículo direito e repousa, principalmente, sobre o centro tendíneo do diafragma.
Artérias Coronárias
O coração é ricamente suprido com sangue, recebendo cerca de 15% do débito do ventrículo esquerdo.
O suprimento é conduzido pelas artérias coronárias que se originam de dois dos três seios sobre as válvulas semilunares no início da aorta.
Artéria coronária esquerda – é geralmente a maior. Ela surge acima da válvula caudal esquerda e atinge o sulco coronário, passando entre a aurícula esquerda e o tronco pulmonar; e divide-se quase imediatamente.
Artéria coronária direita – surge acima da válvula cranial e atinge o sulco coronário após passar entre a aurícula direita e o tronco pulmonar.
Ambas as artérias coronárias emitem outros ramos, de tamanho e posição variáveis, para as partes adjacentes das paredes atriais e ventriculares.
Anatomia Interna do Coração
O coração é formado por quatro câmaras, duas valvas atrioventriculares e duas valvas semilunares.
Divide-se em dois lados (direito e esquerdo) e cada lado representa um átrio e um ventrículo, composto por três camadas que revestem a parede cardíaca.
A divisão também inclui três septos que separam o coração:
Interatrial – divide os dois átrios direito e esquerdo;
Atrioventricular – divide os átrios e os ventrículos;
Interventricular – divide os dois ventrículos direito e esquerdo.
Átrios – são reservatórios de sangue com leve ação de bombeamento.
Ventrículos – câmaras grandes de propulsão para remessa de sangue à circulação pulmonar (ventrículo direito) e circulação sistêmica (ventrículo esquerdo).
Anatomia das Valvas
Valvas Atrioventriculares (tricúspide e mitral ou bicúspide) – funcionam como uma “porta do coração”, responsáveis pela abertura do fluxo de sangue do átrio para o ventrículo, e consequentemente o fechamento para evitar que o sangue retorne para o átrio.
As cúspides são constituídas por tecido conjuntivo frouxo, com variável quantidade de colágeno, proteoglicanos e fibras elásticas.
A valva atrioventricular direita (tricúspide) é composta por três abas ou cúspides que se fixam ao anel fibroso que circunda a abertura.
A valva atrioventricular esquerda (bicúspide ou mitral) que fecha o óstio atrioventricular geralmente possui apenas duas grandes cúspides.
Valvas Semilunares (pulmonar e aórtica) – funcionam também como uma “porta do coração”, responsáveis pela abertura do fluxo de sangue do ventrículo para a circulação pulmonar e sistêmica ,e consequentemente o fechamento para evitar o retorno do sangue para os ventrículos.
Ambas apresentam três válvulas ou folhetos semilunares.
Ciclo das Valvas
As valvas atrioventriculares apresentam particularidades anatômicas importantes para a contribuição com o bombeamento do sangue, chamadas de cordas tendíneas.
Elas são responsáveis por prender as valvas aos músculos papilares (para suportarem o volume de sangue que entra e sai das quatro câmaras), que são projeções da parede do miocárdio encontradas nas paredes internas dos ventrículos.
No momento em que o sangue entra e preenche os átrios, as valvas se apresentam fechadas, as cordas tendíneas tensas e o músculo papilar contraído.
Pela diferença de pressão entre as duas câmaras cardíacas (do átrio para o ventrículo), a valva atrioventricular se abre e as cordas tendíneas manifestam-se como frouxas e o músculo papilar relaxado para o sangue preencher o ventrículo. A representação deste ciclo está ilustrada na imagem abaixo.
Camadas da Parede Cardíaca
O coração é dividido em 3 camadas, sendo elas pericárdio, miocárdio e endocárdio
Pericárdio (camada externa)
Formado por uma membrana fibroserosa em forma de bolsa que reveste e protege o coração e os grandes vasos, permitindo a movimentação para as contrações.
Divide-se em duas membranas: fibroso (externa) e seroso (interna).
- Fibroso – tecido conjuntivo resistente, fornece sustentação estrutural do músculo cardíaco e age como um isolante elétrico, evitando o fluxo livre de impulsos elétricos (potenciais de ação – PA) mantendo-os apenas no coração.
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ - Seroso (pariental e visceral/epicárdio) – dupla camada fina, composta pela membrana mais externa (pariental, que funde-se com a camada fibrosa) e a mais interna (visceral ou também chamada de epicárdio, considerada em outras fontes como uma camada separada).
As duas lâminas possuem um fluido seroso que preenche o espaço entre ambas, responsável por lubrificar o coração e assegurar que não haja atrito durante os batimentos. O epicárdio tem um tecido conjuntivo frouxo coberto por epitélio simples.
Miocárdio (camada média)
É a camada logo após do pericárdio, considerada espessa e composta por músculo estriado cardíaco e tecido conjuntivo fibroso, responsável pelo bombeamento do sangue, através da atividade elétrica do coração.
O miocárdio é a camada muscular que abriga as células marca-passo, responsáveis pela distribuição do potencial de ação ao redor de todo o coração. Ocorrendo assim a despolarização, inicialmente no nó sinoatrial (NS), distribuindo-se ao redor de todo o coração, sendo o estímulo elétrico para todas as contrações cardíacas (bombeamento).
Endocárdio (camada interna)
Considerada fina e composta de tecido conjuntivo e epitelial simples que protege as quatro câmaras cardíacas.
O endocárdio é mais espesso nos átrios para suportar o enchimento de sangue vindo dos pulmões e das veias cava superior e inferior, e delgado nos ventrículos para arremessar o sangue em direção à circulação pulmonar e circulação sistêmica com maior pressão.
Fisiologia do Ciclo Cardíaco
O coração realiza dois movimentos, chamados de sístole (contração) e diástole (relaxamento), de acordo com a despolarização e repolarização das cargas elétricas.
Diástole
É o movimento que o coração realiza de relaxamento dos ventrículos, para receber o volume sanguíneo recebido pelos átrios, vindo diretamente pelas veias cavas superior e inferior e veias pulmonares.
No final da sístole, o coração está contraído e com as valvas atrioventriculares fechadas.
Podemos considerar que existem quatro fases da diástole:
1 – Relaxamento Isovolumétrico: O miocárdio relaxa sem haver alteração no seu volume, ou seja, sem haver enchimento de sangue.
Logo em seguida, o sangue está chegando aos átrios. Consequentemente a pressão atrial é maior que a pressão ventricular que leva a abertura das valvas atrioventriculares.
2 – Enchimento Ventricular Rápido: O sangue passa dos átrios para os ventrículos, preenchendo a câmara com o fluxo do sangue vindo dos átrios e dilatando as paredes dos ventrículos do coração.
3 – Enchimento Ventricular Lento: Ocorre a redução do volume sanguíneo entre os átrios e os ventrículos, e em seguida inicia o fechamento das valvas atrioventriculares, evitando que o sangue retorne para os átrios durante a sístole (contração).
Nessa fase, todo resquício de sangue vindo dos átrios é eliminado para os ventrículos.
4 – Sístole Atrial: Por fim, o átrio realiza a contração, completando o enchimento ventricular de todo o volume sanguíneo recebido pelos átrios.
Sístole
É o movimento que o coração realiza de contração e bombeamento do sangue para a circulação pulmonar pela artéria pulmonar e sistêmica pela artéria aorta.
Podemos considerar que existem três fases da sístole:
1 – Contração Isovolumétrica: Início da contração do miocárdio sem haver a expulsão do sangue dos ventrículos. A pressão dos ventrículos aumenta, superando a pressão atrial. Consequentemente, as valvas atrioventriculares se fecham para evitar que o sangue retorne aos átrios.
É importante ressaltar que a contração ocorre através do estímulo elétrico pelo nó sinoatrial.
2 – Ejeção Ventricular Rápida: As valvas semilunares se abrem e logo em seguida os ventrículos contraem e o sangue é ejetado com rapidez pra fora do coração em direção à circulação pulmonar e sistêmica.
3 – Ejeção Ventricular Lenta: Por fim, ocorre o esvaziamento do sangue restante presente dentro dos ventrículos.
Há redução da pressão ventricular e a velocidade de esvaziamento do sangue. Consequentemente ocorre o fechamento das valvas semilunares e em seguida, ocorre a abertura das valvas atrioventriculares para receber sangue novamente e iniciar a diástole.
Circulação Sanguínea
O coração possui o lado direito e o esquerdo, os quais representam sangues com substâncias diferentes e com o mesmo volume sanguíneo para cada minuto pela circulação sistêmica e pulmonar.
O bombeamento do sangue de ambos os lados apresenta a mesma sincronia, pelo estímulo de um potencial de ação, das contrações e relaxamentos, porém, com diferentes pressões sanguíneas e a velocidade do fluxo sanguíneo depende do calibre dos vasos.
Pressão sanguínea
O sangue se movimenta de um local de alta pressão para um de baixa pressão. A pressão de perfusão para a circulação sistêmica é MAIOR do que a pressão de perfusão para a circulação pulmonar.
Quando o ventrículo esquerdo realiza a contração e ejeta o sangue na artéria aorta, e a mesma torna-se distendida e a pressão sanguínea aórtica aumenta até um valor, chamada pressão sistólica (120 mmHg).
O sangue continua a sair da aorta para as artérias de menor calibre. Dessa forma a saída vai levar a uma diminuição da pressão aórtica. O valor mínimo da pressão sanguínea aórtica antes da próxima ejeção cardíaca é chamada de pressão diastólica (80 mmHg). A energia potencial restante no momento em que o sangue atinge a veia cava é de 3 mmHg.
As contrações ventriculares direitas causam ejeções de sangue para a artéria pulmonar. O valor sistólico é de 20 mmHg e o diastólico é de 8 mmHg, sendo completamente diferente da pressão das veias pulmonares no átrio esquerdo de 5 mmHg.
A pressão sanguínea é sempre medida em relação à pressão atmosférica. A gravidade aumenta a pressão sanguínea nos vasos que estão abaixo do nível do coração e diminui a pressão nos vasos acima do coração.
Lado Direito do Coração – Circulação Pulmonar
Seguindo por essa ordem respectivamente:
1 – O sangue pobre em oxigênio é levado pelas veias cava superior e inferior com o objetivo de ser bombeado para os pulmões;
2 – Logo em seguida o sangue entra dentro do átrio direito;
3 – Abre a valva tricúspide (valva atrioventricular) e o sangue preenche o ventrículo direito (DIÁSTOLE);
4 – Fechamento da valva tricúspide para evitar que o sangue retorne ao átrio direito;
5 – Contração (SÍSTOLE) do ventrículo direito e abertura da valva pulmonar (valva semilunar);
6 – O sangue é ejetado para fora do coração pela artéria pulmonar direita e esquerda, através do tronco pulmonar;
7 – Fechamento da valva pulmonar para promover o enchimento do ventrículo direito da próxima diástole;
8 – O fluxo sanguíneo chega aos pulmões para ser oxigenado (O2);
Lado Esquerdo do Coração – Circulação Sistêmica
Seguindo por essa ordem respectivamente:
1 – O sangue rico em oxigênio (O2) chega do pulmão pelas veias pulmonares superior e inferior;
2 – Logo em seguida o sangue preenche o átrio esquerdo;
3 – Abertura da valva mitral (valva atrioventricular) e o sangue preenche o ventrículo esquerdo (DIÁSTOLE);
4 – Fechamento da valva mitral para evitar que o sangue retorne ao átrio esquerdo;
5 – Contração (SÍSTOLE) do ventrículo esquerdo e abertura da valva aórtica (valva semilunar);
6 – O sangue é ejetado para fora do coração pela aorta;
7 – Fechamento da valva aórtica para promover o enchimento do ventrículo esquerdo da próxima diástole;
8 – Distribuição do sangue oxigenado para os tecidos, células e órgãos do corpo;
Bulhas Cardíacas
Os sons cardíacos, ou bulhas, são sons gerados pelo impacto do sangue em diversas estruturas cardíacas e nos grandes vasos. As vibrações são propagadas nas paredes do tórax e podem ser auscultadas através de um estetoscópio.
Durante o exame físico do animal, é rotineiro realizar a auscultação para contribuir com a compreensão dos parâmetros fisiológicos e possíveis diagnósticos. Entretanto, é importante compreender quais são esses sons e o que eles significam durante a ausculta.
Tum e Ta
O primeiro som emitido pelo coração, percebido pelo médico veterinário é o “TUM”, referindo-se ao fechamento das valvas atrioventriculares (1ª bulha).
O segundo som emitido pelo coração é o “TÁ”, referindo-se ao fechamento das valvas semilunares (2ª bulha). A compreensão das primeiras bulhas cardíacas é lembrada de forma mais fácil se os fechamentos das valvas se parecessem como portas fechando e fazendo sons ao fecharem rapidamente e com maior pressão, exercida por um vento, que seria o percurso que o sangue está percorrendo.
Existem quatro bulhas cardíacas e dois tipos de silêncios, descritos nessa ordem respectivamente:
- 1ª bulha (S1): fechamento das valvas atrioventriculares (mitral e tricúspide) = contração dos ventrículos.
Pequeno silêncio = curta duração = SÍSTOLE
- 2ª bulha (S2): fechamento das valvas semilunares (aórtica e pulmonar) = relaxamento dos ventrículos
Grande silêncio = longa duração = DIÁSTOLE
- 3ª bulha (S3): ruído de enchimento ventricular rápido pela vibração das paredes dos ventrículos distendidas pela diástole
- 4ª bulha (S4): ruído pré-sistólico, sístole atrial pela alteração do ventrículo pela diástole (pode ser confundida com desdobramento da 1 bulha)
Mecanismo Contrátil do Músculo Cardíaco
O coração é composto por três tipos principais de músculo: o músculo atrial, o músculo ventricular e as fibras especializadas excitatórias e condutoras.
Os tipos atrial e ventricular do músculo contraem-se quase como os músculos esqueléticos, mas com duração muito maior da contração. As fibras excitatórias e de condução, no entanto só se contraem por conterem poucas fibras contráteis, mas apresentam descargas eléctricas rítmicas automáticas, na forma de potenciais de ação, ou fazem a condução desses potenciais de ação pelo coração, representando o sistema excitatório que controla os batimentos rítmicos.
Podemos considerar algumas diferenças em relação ao músculo esquelético:
MÚSCULO ESQUELÉTICO | MÚSCULO CARDÍACO |
As células são eletricamente isoladas | Todas as células contraem-se em sincronia (agem como uma única célula) |
Não tem discos intercalados | As células estão unidas por discos intercalados |
As células musculares cardíacas estriadas, também chamadas de fibras musculares são constituídas por miofibrilas e cada uma tem um padrão repetitivo de faixas claras e escuras, que recebem denominações por letras.
As miofibrilas apresentam em cada unidade uma estrutura chamada sarcômero, composto por filamentos finos de actina e filamentos espessos de miosina.
Na presença de ATP e íons de cálcio, a miosina interage diretamente deslizando com a actina, resultando na contração do miocárdio, ou seja, o bombeamento do sangue.
Discos Intercalados
Os discos intercalados, ou junções em fenda, são minúsculos canais citoplasmáticos que permitem a propagação de potenciais de ação de célula para célula e fazem a separação das células miocárdicas umas das outras.
Assim, do ponto de vista funcional, os íons se movem com facilidade pelo fluido intracelular, ao longo do eixo longitudinal das fibras miocárdicas, com os potenciais de ação se propagando facilmente de uma célula muscular cardíaca para outra, através dos discos intercalados.
Dessa forma, o miocárdio forma sincício de muitas células musculares cardíacas, no qual as células estão tão interconectadas que, quando uma delas é excitada, o potencial de ação se espalha para todas, propagando-se de célula a célula pela treliça de interconexões.
O coração é na verdade composto por dois sincícios: o sincício atrial, que forma as duas paredes dos átrios, e o sincício ventricular, que forma as duas paredes dos ventrículos.
No músculo cardíaco, o potencial de ação é originado pela abertura de canais de dois tipos: os canais de sódio e os canais de cálcio. Os íons penetram nas fibras miocárdicas por esses canais causando a despolarização.
Atividade Elétrica do Coração
O coração é dotado de um sistema especial para gerar impulsos elétricos rítmicos que causam contrações rítmicas do miocárdio e conduzir esses impulsos rapidamente por todo o coração.
O sistema especializado responsável pela condução do potencial de ação (P.A) do coração inclui o nodo sinoatrial (S.A), nodo atrioventricular (A.V), feixe de His e fibras de purkinje.
As células marca passo são células cardíacas que se despolarizam espontaneamente, iniciando os batimentos cardíacos. A localização dessas células é na região nomeada como nó sinoatrial (S.A), encontrado na parede do átrio direito.
O potencial de ação formado propaga-se rapidamente nas células dos átrios direito e esquerdo, causando a contração de ambos os átrios.
Em seguida o P.A distribui-se lentamente de célula em célula em direção aos ventrículos pelo nodo atrioventricular (A.V), feixe de His (divide-se em lados direito e esquerdo) e na parte distal pelas fibras de purkinje.
Ativação elétrica
A ativação elétrica ordenada do coração é realizada pela propagação sequencial de potenciais de ação ao longo das estruturas.
O batimento cardíaco tem início no nodo sinoatrial, com um potencial de ação gerado de maneira espontânea. A corrente iônica que flui para o interior da célula durante o potencial de ação é transferida de uma célula excitada para as suas vizinhas que ainda não estão excitadas, até que ocorre a excitação e a propagação do potencial de ação para as células vizinhas.
Assim, a propagação de potenciais de ação cardíacos requer o fluxo de carga elétrica tanto pela membrana celular de um único miócito, com o objetivo de gerar um potencial de ação, como das membranas celulares que interconectam os miócitos, visando elevar o potencial da membrana ao limiar para um potencial de ação. A carga é transportada por cátions (Na, K, Ca).
A ativação elétrica se dissemina a partir do nodo SA para o miocárdio atrial direito e através dos feixes de His para o átrio esquerdo. A condução do potencial de ação atravessa o miocárdio atrial e continua entre os átrios e os ventrículos, para o nodo atrioventricular.
Depois de deixar o nodo AV, as ondas atingem um sistema de condução que consiste no feixe de His e os ramos esquerdo e direito, constituídos de redes de células cardíacas de purkinje. O sistema His-Purkinje distribui ativação rápida e amplamente para o miocárdio ventricular, causando a contração.
Batimento normal
1 – Despolarização do nodo sinoatrial
2 – Propagação do potencial de ação para nodo atrioventricular, através das vias internodais. A transmissão do impulso elétrico é lenta para assegurar o enchimento dos ventrículos.
3 – Percorre pelas fibras de His e fibras de purkinje com a condução rápida do P.A pelas ramificações direita e esquerda. A transmissão do impulso elétrico é rápida para assegurar a contração eficiente e coordenada dos ventrículos.
4 – Despolarização dos ventrículos
5 – Contração dos ventrículos
6 – Relaxamento dos ventrículos
Eletrocardiograma
O eletrocardiograma normal é composto pela onda P, pelo complexo QRS e pela onda T.
As ondas são voltagens elétricas geradas pelo coração e registradas pelo eletrocardiógrafo na superfície do corpo. O complexo QRS apresenta com frequência as três ondas distintas: a onda Q, a onda R e a onda S.
A Onda P é causada pela disseminação da despolarização pelos átrios, e isso é seguido pela contração atrial, que causa aumento discreto na curva de pressão imediatamente após a onda P eletrocardiográfica.
Após o início da onda P, as ondas QRS surgem como resultado da despolarização elétrica dos ventrículos, o que inicia a contração ventricular e faz com que a pressão ventricular comece a aumentar.
O complexo QRS é produzido pelos potenciais gerados quando os ventrículos se despolarizam antes de sua contração, isto é, enquanto a onda de despolarização se propaga pelos ventrículos. Portanto, o complexo QRS se inicia pouco antes do início da sístole ventricular e tanto a onda P como os componentes do complexo QRS são ondas de despolarização.
Por fim, a onda T é produzida pelos potenciais gerados, enquanto os ventrículos se restabelecem do estado de despolarização. Ela representa o estágio de repolarização dos ventrículos quando suas fibras musculares começam a relaxar.
A onda T surge pouco antes do final da contração ventricular.
LEMBRE-SE
Este artigo de anatomia e fisiologia do coração tem apenas caráter informativo. SEMPRE procure por um profissional!
Aproveitando os estudos, confira o nosso artigo sobre anatomia e fisiologia da Reprodução de Éguas
Médica veterinária, apaixonada por cavalos. Adoro assistir filmes e amo ensinar. Sonho em dar aulas
Instagram: @talissavet
Adorei 👏👏👏
Ficamos felizes que tenha gostado Gustavo
gostei muito
Que ótimo saber disso, Narciso! Agradecemos o feedback.
Amei, muito bem explicado, parabéns
Muito obrigado Thais. Espero que tenha aprendido bastante
Amei seu blog 🙂 Parabéns!!!
Muito obrigado ❤️🐴
Estou orgulhoso da maneira como desenvolveu isso.
Muito obrigado Gustavo. Ficamos felizes que tenha gostado
Sinceramente… que aula rápida, prática e essencial. Excelente explicação e de fácil entendimento. Muito obrigado pela disposição de nos ajudar!
Muito obrigado pelo comentário Edduardo. Nosso objetivo é justamente oferecer explicações claras e práticas para auxiliar no dia a dia dos médicos veterinários.