Manejo de Feridas em Equinos – Classificação e Fases da Cicatrização

ANTES DE LIDAR COM O MANEJO DE FERIDAS EM EQUINOS, O QUE DEVO ENTENDER?

O conteúdo de hoje traz ao blog um assunto que vira e mexe deixa proprietários de cabelo em pé. Feridas cutâneas são comumente visíveis nos equinos e isso se dá principalmente por sua psicologia animal. 

Cavalos são animais de vida livre, viviam somente em manadas soltos a pasto. Com a domesticação animal passaram a permanecer em piquetes, baias e cocheiras. Ainda que tenham se acostumado a viver de tal maneira, estes animais permanecem com o comportamento de liberdade

Um equino solto na natureza vive em conjunto com outros animais de sua espécie. Apresentam como líderes o garanhão com a função de proteger e a égua dominante com a função de cuidar da manada auxiliando o garanhão.

Cavalos são animais de grande porte e peso, mas ainda assim são considerados presas. Por este motivo, quando se sentem ameaçados continuam atentos e com instinto de reagir em fuga.

cavalos livres
Cavalos são animais de grande porte e peso, mas ainda assim são considerados presas.

Na maioria das vezes que o cavalo utiliza da fuga para se proteger, o mesmo acaba se machucando, lesionando membros, musculatura, tendões, ligamentos e algumas vezes acaba tendo exposição óssea

O que são Feridas Cutâneas? 

Consideradas como descontinuidade da pele, uma ferida é descrita por autores como consequência de determinada agressão por um agente ao tecido vivo.

De acordo com a Associação Brasileira de Estomaterapia a mesma pode ser conceituada como perda da integridade da pele

O que é lesionado em uma ferida?

No ato de uma lesão cutânea, existem algumas estruturas anatômicas que podem ser atingidas. A principal delas é a pele.

Conhecida por ser o maior órgão de um corpo, a pele se divide em epiderme e derme.

pele humana
Representação esquemática da pele.
Fonte: UNIFAL/MG

A epiderme é a parte mais superficial da pele. Nela há a presença de algumas células (queratinócitos, melanócitos, células de langerhans, células de merkel) e suas camadas (basal, espinhosa, granulosa, lúcida e córnea).

A derme é um tecido conjuntivo que se apoia a epiderme. Nela está presente fibroblastos responsáveis pelas fibras colágenas e elásticas. Além das fibras também há presença de vascularização (veias e artérias), raízes nervosas e glândulas. 

Como uma ferida pode ser classificada?

Diversos aspectos tendem a ser considerados durante a classificação de uma ferida em equinos e por isso, podem ser classificadas mais de uma vez. 

  1. Classificadas quanto ao agente causal – Preconizando saber qual foi o material que ocasionou a ferida: Incisas, cortantes, conto-contusas, perfurante, perfuro-contusas, lácero-contusas, perfuro-incisas, escoriações, equimoses e hematomas;

  2. Grau de contaminação – Neste caso podemos observar qual o risco do desenvolvimento de uma infecção. Temos: Limpas, Limpas contaminadas, Contaminadas e Sujas (Infectadas);

  3. Exposição ao Ambiente – Consideradas feridas abertas ou feridas fechadas dependendo da penetração na pele. Feridas fechadas são aqueles que não atingem a espessura total da pele e as abertas penetram a derme podendo envolver estruturas mais profundas;

  4. Quanto ao tempo da ferida – Feridas recentes indicam ser agudas e feridas antigas, com mais de uma semana cujo tratamento de maneira correta não é eficaz já se torna uma ferida crônica; 

Cicatrização de feridas em equinos

Após a lesão, existe um conjunto de eventos bioquímicos, tissulares e celulares que acontecem no intuito de reparar o dano ocorrido, promovendo a cicatrização.

Dois processos são envolvidos, sendo eles a regeneração que é a substituição do tecido lesado por um semelhante àquele perdido e a reparação.

Esses eventos são descritos em diferentes fases que são denominadas em: 

  • Hemostasia – Ao acontecer a lesão, há perda de sangue e neste momento se inicia a hemostasia, na qual ocorre uma vasoconstrição para minimizar a hemorragia, ditando o desencadeamento de outras fases. 

  • Inflamação – A inflamação se inicia logo após com a vasodilatação e migração de células brancas proporcionando defesa

  • Proliferação – Após a inflamação temos a proliferação onde ocorre a migração de queratinócitos, angiogênese, e produção de fibroblastos.
    A medida que as novas células são formadas e todo o processo é reorganizado, inicia-se a contração da ferida e os fibroblastos passam a ser miofibroblastos contendo fibras que auxiliam a aproximação das bordas, forçando assim as fibras de colágeno a se sobreporem e se entrelaçarem

  • Remodelação – A fase final da cicatrização é a remodelação tecidual cujo período de ocorrência persiste por longo tempo até os tecidos serem maturados. 
feridas em equinos
Fases da cicatrização.
Fonte Blog MedCel (adaptado de Isaac et al, 2010).

Essas fases são interdependentes, ou seja, para que a fase proliferativa ocorra, por exemplo, é necessário que a fase inflamatória já tenha ocorrido

Fiquem atentos! Em uma única lesão cutânea eu posso ter mais de uma fase de cicatrização atuante, em regiões diferentes (borda e centro por exemplo);

Cavalos apresentam diferenças nas fases de cicatrização quando comparado com outras espécies?

A resposta é sim. Cavalos apresentam a pele em espessuras diferentes de acordo com a região do seu corpo. Também apresentam uma fase inflamatória mais extensa do que outras espécies de animais e por isso tendem a apresentar com mais frequência e facilidade o tecido de granulação exuberante

O que é o tecido de granulação?

É um tecido viável, úmido, granulado de coloração rósea composto por vasos sanguíneos, tecido conjuntivo, fibroblastos e células inflamatórias, preenchendo uma ferida aberta durante o processo de cicatrização.

feridas em equinos
Fases da cicatrização, com a ação do tecido de granulação
Fonte: Real H

Esta granulação é necessária para que a reparação e restauração tecidual ocorra, promovendo a cicatriz completa da lesão.

Porém, em cavalos a mesma pode crescer de forma exuberante quando não avaliada corretamente e prejudicar a otimização da recuperação. 

Tratamento de Feridas em Equinos

Sabendo sobre anatomia e fisiologia da pele, a principal curiosidade se dá ao tratamento que deve ser feito em feridas em equinos.

Uma ferida deve ser avaliada conforme sua etiologia, evolução, grau de contaminação, exposição ao ambiente, entre outros inúmeros fatores para que seja escolhido um tratamento ideal.

É importante desmitificar que Habronemose e Pitiose não são feridas cutâneas! São doenças que necessitam de um atendimento convencional clínico

Podemos observar que cuidar de uma ferida requer muito mais do que saber qual será o tratamento mais indicado para a mesma.

Não existe protocolo único para todos os tipos de feridas em equinos. É importante saber quando e como aconteceu, se houve tratamentos anteriores e chamar o veterinário ainda na fase aguda, para que a mesma não seja de alto custo ao ser tratada. 

LEMBRE-SE

Este artigo tem apenas caráter informativo. SEMPRE procure por um profissional!

Aproveitando os estudos, confira o nosso artigo sobre as Fases do sono Equino e suas particularidades

Amanda Prata Fialho

Médica Veterinária com aprimoramento em Clínica e Cirurgia de Grandes Animais, Especialista em Feridas e Pós Graduanda em Fisioterapia e Reabilitação Veterinária. Instagram: @pratamvet

5 thoughts to “Manejo de Feridas em Equinos – Classificação e Fases da Cicatrização”

  1. Colega Amanda. Parabéns. Muito bom e bem explicativo. Vai ajudar ajuda muito aos colegas que trabalham no campo. Boa sorte.

    1. Olá, Francisco. Muito obrigada! Fico muito feliz que tenha gostado. Espero que aproveitem e utilizem desse conhecimento para auxílio no campo. Agradeço o feedback!

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